Contabilidade

A Verdadeira Conta da Quebra do Banco Master: Investidores, Fundos e Você Vão Pagar o Rombo Bilionário

A Maior Queda Bancária da Década no Brasil

O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, um dos maiores colapsos já registrados no sistema financeiro nacional. O banco era o 11º maior do país em depósitos a prazo e tinha mais de 1,6 milhão de investidores expostos por meio de CDBs distribuídos em massa pelas maiores corretoras do mercado.

Com a liquidação, o banco deixa imediatamente de operar, tem sua administração substituída por um liquidante indicado pelo BC e todo o seu patrimônio passa a compor a chamada massa liquidanda, que será usada para pagar credores conforme a ordem legal.

Segundo estimativas iniciais, havia R$ 60 bilhões em depósitos a prazo, sendo cerca de R$ 40 bilhões potencialmente amparados pelas regras de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

O FGC Vai Pagar — Mas Isso Terá Consequências Para Todo o Sistema

O FGC possui aproximadamente R$ 120 bilhões em liquidez, o suficiente para arcar com as garantias dentro do limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ por instituição, sempre incluindo os juros até a data da liquidação.

Quem possui valores acima do limite entrará na fila da massa falida, com perspectivas incertas de recuperação. Para receber, o investidor deverá baixar o aplicativo oficial do FGC, realizar o cadastro e informar os dados bancários. O pagamento costuma levar entre 30 e 90 dias, dependendo da consolidação das informações pelo liquidante.

O Escândalo Que Derrubou o Banco

A liquidação acontece em meio a investigações que apontam para uma possível fraude bilionária. O controlador do Master, Daniel Vorcaro, foi preso, e a Polícia Federal afirma que houve operações fraudulentas envolvendo cerca de R$ 12 bilhões em créditos repassados ao Banco de Brasília (BRB), os chamados “empréstimos fantasmas”. O presidente do BRB foi afastado, e a apuração indica que o esquema teria durado anos.

Em 2025, o BRB tentou comprar o Banco Master, mas o Banco Central vetou a operação alegando riscos ao sistema financeiro. Após isso, outras instituições demonstraram interesse, como o BTG Pactual, sem avanço. Pouco antes da liquidação, a holding Fictor, pouco conhecida no mercado, anunciou a compra do banco, movimento que levantou ainda mais suspeitas.

Quem Eram Os Maiores Investidores do Banco Master: Fundos, Entes Públicos e Empresas

A queda do banco não atingiu apenas investidores pessoa física. Grandes fundos e instituições alocaram cifras milionárias e agora contabilizam perdas significativas.

Fundos de previdência de estados e municípios com forte exposição

  • Rioprevidência (RJ)
  • MaceióPrev (Prefeitura de Maceió)
  • Previdências municipais de MG, MT e PR
  • Vários institutos de previdência locais que compraram CDBs do Master buscando rentabilidade acima da média

Empresas com posições relevantes

  • Oncoclínicas: R$ 433 milhões aplicados em títulos do Master

Fundos de investimento e gestoras fortemente expostos

Diversos fundos multimercado, renda fixa e FIDCs possuíam quantias expressivas em papéis do Master, entre eles:

  • Occam
  • XP Asset
  • Ibiuna
  • Canvas Capital
  • Sicredi Asset
  • SulAmérica Investimentos
  • Fundos exclusivos de grandes grupos empresariais
  • FIDCs com créditos originados pelo próprio Banco Master

Grande parte desses fundos está acima do limite do FGC, o que significa perdas diretas no patrimônio dos cotistas.

Por Que Você Vai Acabar Pagando Essa Conta Também

O FGC é financiado por todos os bancos brasileiros. Diante de um resgate dessa magnitude, o regulamento permite elevar a contribuição das instituições financeiras. Na prática, isso significa:

  • juros maiores
  • tarifas mais altas
  • produtos menos rentáveis

Mesmo quem nunca investiu no Banco Master sentirá o impacto nos preços dos serviços bancários e na remuneração de aplicações tradicionais.

A Responsabilidade das Corretoras e o Incentivo ao Risco

Grande parte dos R$ 60 bilhões captados pelo Master veio da distribuição em massa realizada pelas maiores corretoras do país. Muitas destacavam os CDBs do banco com forte apelo comercial, remunerações acima da média e, em alguns casos, recomendações destoantes do risco real da instituição. As comissões internas eram altas, o que incentivava a venda agressiva.

Para o investidor comum, a sensação era de segurança, reforçada pelo rótulo “renda fixa conservadora”. Na prática, financiava-se uma operação bancária fragilizada e, possivelmente, fraudulenta.

O Que Fica de Lições Para o Mercado

A liquidação do Banco Master expõe um ponto muitas vezes ignorado pelo investidor: risco bancário existe — e pode ser grande. Renda fixa não significa ausência de risco. Quando a busca por retornos maiores se une a falhas de governança, incentivos distorcidos e fiscalização insuficiente, o resultado é inevitável: a conta chega para todos.

O que é um crédito fantasma (resumo objetivo)

Crédito fantasma é um tipo de fraude financeira em que uma instituição ou pessoa cria empréstimos que não existem de verdade. Na prática, o banco registra em seus sistemas que concedeu crédito para empresas ou pessoas, mas esses clientes não existem, não pediram empréstimo ou não têm capacidade real de pagar.

Ou seja:
O dinheiro não foi emprestado para ninguém — o crédito é fictício.

O objetivo dessa fraude geralmente é:

  • inflar artificialmente o balanço do banco, fazendo parecer que ele tem ativos valiosos;
  • gerar pagamentos ou bônus internos ligados ao volume de crédito;
  • usar os “créditos falsos” para vender carteiras para outros bancos, recebendo dinheiro por algo que não existe;
  • mascarar prejuízos reais.

Os créditos fantasmas ficam escondidos até que:

  1. o banco tenta cobrar alguém que não existe,
  2. outro banco descobre a fraude ao comprar a carteira, ou
  3. uma auditoria ou operação policial identifica a irregularidade.

Por que isso é grave?

Porque o banco passa a registrar ativos falsos, criando a ilusão de que está saudável quando, na verdade, está quebrado. Isso pode gerar:

  • rombo bilionário;
  • prejuízo para fundos, prefeituras e investidores;
  • risco sistêmico para o sistema financeiro;
  • intervenção ou liquidação pelo Banco Central.

Apesar da fama de “segura”, renda fixa não é isenta de risco. O caso Banco Master mostrou isso com força.

1. Risco de crédito (quebra da instituição)

É o risco de o emissor do título não conseguir pagar.
Foi exatamente o que aconteceu no Banco Master:

  • o banco quebrou,
  • mais de R$ 60 bilhões estavam em CDBs,
  • investidores acima do limite do FGC podem não receber o valor total.

2. Exposição acima do FGC

Muitos investidores, fundos, empresas e até prefeituras aplicaram valores muito maiores que R$ 250 mil.
Tudo o que ultrapassa o limite entra na massa falida, com recuperação incerta.

3. Incentivos distorcidos

Corretoras deram grande destaque aos CDBs do Master:

  • taxas muito altas,
  • volume gigantesco de vendas,
  • comissões internas atrativas.
    O investidor acreditava estar pegando “renda fixa conservadora”, mas na prática assumia risco bancário elevado.

4. Risco de governança

Mesmo pagando boas taxas, um banco pode esconder problemas:

  • fraudes,
  • operações fantasmas,
  • contabilidade maquiada,
  • má administração.
    Isso não aparece para o usuário comum — até explodir.

5. Risco de liquidez

Se o banco entra em intervenção ou liquidação, você não consegue resgatar o dinheiro na hora.
O processo do FGC leva 30 a 90 dias, às vezes mais.

O que aprender com isso?

Nem toda renda fixa é igual.

Existe uma enorme diferença entre um CDB de um grande banco e de uma instituição pequena pagando 120% do CDI.

Rentabilidade alta = risco maior

No Master, o juro parecia ótimo, mas o risco de crédito era enorme — e esse risco se concretizou.

Diversificar é obrigatório

Nunca concentre grandes valores em um único emissor, mesmo com FGC.

Avalie a saúde do banco

Capitalização, inadimplência, governança, histórico de resultados — tudo isso importa.

Ricardo de Freitas

Ricardo de Freitas não é apenas o CEO e Jornalista do Portal Jornal Contábil, mas também possui uma sólida trajetória como principal executivo e consultor de grandes empresas de software no Brasil. Sua experiência no setor de tecnologia, adquirida até 2013, o proporcionou uma visão estratégica sobre as necessidades e desafios das empresas. Ainda em 2010, demonstrou sua expertise em comunicação e negócios ao lançar com sucesso o livro "A Revolução de Marketing para Empresas de Contabilidade", uma obra que se tornou referência para o setor contábil em busca de novas abordagens de marketing e relacionamento com clientes. Sua liderança no Jornal Contábil, portanto, é enriquecida por uma compreensão multifacetada do mundo empresarial, unindo tecnologia, gestão e comunicação estratégica. Além disso é CEO da FiscalTalks Inteligência Artificial, onde desenvolve vários projetos de IA para diversas areas.

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