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Por que o seu dinheiro está desvalorizando?

Desde sua criação em 1994, o Real trouxe consigo a promessa de estabilidade econômica após décadas de hiperinflação e sucessivas mudanças monetárias no Brasil. No entanto, ao longo dos anos, a moeda brasileira vem perdendo valor de forma gradual e constante, corroendo o poder de compra da população. Este artigo traça um panorama histórico da desvalorização do Real, utilizando dados e números para ilustrar como o dinheiro dos brasileiros vale cada vez menos.

O Real em 1994: O Início de uma Nova Era

O Plano Real, implementado em julho de 1994, foi um marco na economia brasileira. A nova moeda substituiu o Cruzeiro Real e conseguiu domar a inflação, que chegou a atingir patamares superiores a 2.000% ao ano no início da década de 1990. No lançamento do Real, 1 USD valia aproximadamente 1 R$, um cenário de paridade que refletia a confiança inicial na nova moeda.

Na época, com R$ 1, era possível comprar um litro de leite, um pão francês e ainda sobrar troco. O poder de compra do brasileiro era significativo, e a estabilidade econômica trouxe um novo ânimo ao mercado consumidor. No entanto, essa relação não durou muito.

A Desvalorização do Real ao Longo dos Anos

Desde sua criação, o Real vem perdendo valor frente ao dólar e, principalmente, frente aos preços de bens e serviços no mercado interno. A inflação acumulada, as crises econômicas e as políticas monetárias adotadas ao longo dos anos contribuíram para essa erosão do poder de compra, algumas delas são:

  • Inflação Acumulada- De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumulou um aumento de aproximadamente 450% entre julho de 1994 e setembro de 2024. Isso significa que, em média, os preços dos produtos e serviços mais que quadruplicaram nesse período. Para ilustrar, em 1994, com R$ 1 era possível comprar 1 kg de arroz. Hoje, o mesmo quilo de arroz custa em média de R$ 6 a R$ 9, dependendo da região. Ou seja, o valor que antes comprava 1 kg agora compra apenas uma fração do produto.
  • Câmbio e Perda de Valor Externo – A desvalorização do Real frente ao dólar é outro fator que evidencia a perda de poder de compra. Em 1994, 1 USD equivalia a 1 Real. Em setembro de 2024, a taxa de câmbio flutuou em torno de R$ 5,50 por dólar. Isso representa uma desvalorização de cerca de 450% em relação à moeda americana. Essa desvalorização impacta diretamente no custo de produtos importados, como eletrônicos, combustíveis e medicamentos, que ficam mais caros para o consumidor brasileiro.
  • Salário Mínimo e Poder de Compra – O salário mínimo é um bom termômetro para medir o poder de compra da população. Em 1994, o salário mínimo era de R$ 64,79. Em Janeiro de 2025 o valor do salário mínimo era de R$1.512,00. No entanto, quando corrigido pela inflação acumulada desde 1994, o salário mínimo de 2025 equivale a aproximadamente R$600,00 em valores de 1994. Isso significa que, embora o valor nominal tenha aumentado, o poder de compra do salário mínimo hoje é quase 15% menor do que há 31 anos.

Comparação com Outros Períodos

A perda do poder de compra do Real fica ainda mais evidente quando comparamos preços de produtos essenciais ao longo dos anos:

  • Gasolina: Em 1994, o litro da gasolina custava R$ 0,50 em janeiro de 2025 o preço pode chegar a R$ 7,00 um aumento de 1.300%
  • Leite: Em 1994, o litro de leite custava R$ 0,50 em janeiro de 2025 o preço médio é de a R$ 6,50 um aumento de 1.200%
  • Pão francês:Em 1994, o pão francês custava R$ 0,10 em janeiro de 2025 o preço médio é de a R$1,30 um aumento de 1.200%.

Esses números mostram que, para comprar os mesmos produtos de 31 anos atrás, o brasileiro precisa desembolsar muito mais do que antes.

Em 2025, o Real completa 31 anos com um legado misto. Por um lado, a moeda trouxe estabilidade após décadas de hiperinflação. Por outro, a falta de reformas estruturais, a instabilidade política e as crises econômicas repetidas corroeram seu valor ao longo do tempo.

Hoje, o brasileiro precisa trabalhar mais horas para comprar os mesmos produtos que adquiria há 31 anos. A cesta básica, o combustível, o aluguel e até o cafezinho de todo dia pesam mais no orçamento. Enquanto o país não enfrentar seus desafios estruturais, o Real continuará a perder valor, e o sonho de uma moeda forte e estável permanecerá distante.

Por Lucas de Sá Pereira, contador ,  e colunista do Jornal Contábil e criador do instagram @contadorlucaspereira




Lucas Pereira

Com mais de uma década de vivência no mundo contábil, sou Lucas Pereira, formado pela Universidade Braz Cubas em ciências contábeis e com registro no CRC. Minha jornada me levou a aprimorar meus conhecimentos em renomadas instituições internacionais como King's College London e SOAS University of London. Acredito que a contabilidade e as finanças não precisam ser complexas. Aqui, no Jornal Contábil, meu objetivo é desmistificar esses temas e compartilhar insights práticos para que você tome decisões mais assertivas para o seu negócio.

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