4 dores que a liderança financeira das empresas de eventos vai enfrentar com a Reforma Tributária, e como se preparar agora
Por décadas, o sistema tributário brasileiro sobre o consumo tem sido uma fonte notória de complexidade, litigiosidade e ineficiência econômica – um verdadeiro “caos organizado” que drena recursos e emperra o desenvolvimento. A promessa de uma reforma abrangente, materializada na Emenda Constitucional que instituiu um novo modelo baseado no Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual (IBS e CBS), foi recebida com uma mescla de esperança e ceticismo.
Em fase de regulamentação através das Leis Complementares em pleno andamento, a discussão se aprofunda: será que a nova arquitetura fiscal, tão elogiada no papel, conseguirá superar os desafios colossais de sua implantação em um país com as dimensões e a diversidade do Brasil?
Este artigo propõe uma análise crítica dos principais obstáculos e complicações que se apresentam, contrastando-os com os inegáveis benefícios potenciais que a racionalização do sistema pode trazer.
Não é segredo para ninguém que o atual sistema de tributação do consumo no Brasil é um labirinto. Suas características são amplamente reconhecidas e diagnosticadas:
A Reforma Tributária aprovada visa atacar esses problemas na raiz, propondo a unificação dos cinco tributos mencionados no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência compartilhada entre estados e municípios, e na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal. A inspiração é o modelo de IVA já consolidado em muitos países desenvolvidos, com promessas de não cumulatividade plena, tributação no destino e simplificação. No papel, o avanço é inegável. Contudo, a transição do papel para a realidade brasileira é onde residem os desafios mais críticos.
A jornada da teoria à prática da Reforma Tributária é repleta de obstáculos que exigem atenção, planejamento e uma capacidade de execução impecável por parte do poder público e da sociedade.
O Brasil não é um país, é um continente. E dentro de suas fronteiras coexistem realidades econômicas e sociais extremamente distintas. Temos, por exemplo:
🔴 Risco Iminente: Implementar uma reforma tributária padronizada, mesmo com a previsão de alguns tratamentos diferenciados, pode impactar de forma assimétrica e potencialmente negativa regiões ou setores que hoje dependem de incentivos fiscais específicos ou que possuem estruturas de custo e modelos de negócio moldados pelo sistema atual. A perda abrupta de competitividade ou o desarranjo de cadeias produtivas locais podem gerar profundas tensões políticas e econômicas, com pressões por compensações ou exceções que podem descaracterizar a própria reforma. A manutenção dos incentivos da ZFM e do Simples Nacional (embora este último com desafios próprios, como já analisamos) são exemplos dessa complexidade.
Estados e municípios têm no ICMS e no ISS, respectivamente, suas principais fontes de receita própria. A Reforma Tributária propõe que a arrecadação do IBS seja centralizada (ou coordenada por um Comitê Gestor nacional) e, posteriormente, redistribuída aos entes subnacionais segundo novos critérios, que priorizam o princípio do destino.
🔴 Risco Iminente: A perspectiva de perda de autonomia na arrecadação e as incertezas sobre a efetiva recomposição das receitas futuras geram uma resistência política monumental. Estados que hoje são grandes arrecadadores na origem (como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, devido à concentração industrial e de serviços) e prefeituras de grandes centros urbanos (com forte arrecadação de ISS) temem perdas significativas. A negociação em torno das regras de transição, das alíquotas de referência e dos mecanismos de compensação (como o Fundo de Desenvolvimento Regional) é árdua e permeada por interesses conflitantes, podendo levar a concessões que comprometam a neutralidade e a eficiência do novo sistema.
A transição completa do sistema antigo para o novo está prevista para durar quase uma década, com fases distintas de convivência entre os tributos atuais e os novos (IBS e CBS). Esse período prolongado, embora necessário para mitigar impactos abruptos, traz consigo seus próprios fantasmas:
[🤔 Para Refletir: Estarão os softwares de gestão e as equipes fiscais das empresas realmente preparados para operar com precisão em um ambiente de dupla tributação e regras de transição que se estenderão até 2032 ou além?]
Um sistema tributário novo e sofisticado, que promete não cumulatividade plena e ressarcimento ágil de créditos, exige uma máquina administrativa e tecnológica à altura. Isso implica:
🔴 Risco Iminente: Se a infraestrutura tecnológica e a capacitação humana não acompanharem a velocidade e a complexidade da reforma, a arrecadação pode ser seriamente comprometida, e as brechas para fraudes e sonegação podem se ampliar, minando a credibilidade do novo sistema desde o seu nascedouro. O sucesso da arrecadação da CBS a partir de 2026/2027 e do IBS a partir de 2026 (testes) e 2029 (transição efetiva) dependerá crucialmente dessa capacidade de execução.
Embora a jornada de implantação seja árdua e repleta de percalços potenciais, não se pode perder de vista o potencial transformador que uma reforma tributária bem-sucedida pode trazer para o Brasil. Os benefícios almejados são significativos:
✔️ Redução da Cumulatividade e da Guerra Fiscal: A sistemática do IVA, com crédito financeiro amplo e tributação no destino, tem o poder de eliminar o efeito cascata dos impostos e acabar com a disputa predatória por investimentos entre os estados.
✔️ Simplificação das Obrigações Acessórias para Empresas: A unificação de tributos e a padronização de regras devem, a longo prazo, reduzir drasticamente a burocracia e o tempo gasto pelas empresas com o cumprimento de obrigações fiscais.
✔️ Estímulo à Formalização e à Produtividade: Um sistema mais simples e transparente tende a incentivar a formalização de negócios e, ao eliminar distorções, pode melhorar a alocação de recursos e impulsionar a produtividade da economia.
✔️ Mais Transparência na Carga Tributária ao Consumidor: Com o imposto calculado “por fora” e destacado no documento fiscal, o cidadão terá uma noção mais clara de quanto efetivamente paga de tributos sobre o consumo.
✔️ Aumento da Segurança Jurídica no Longo Prazo: Após o turbulento período de transição, a expectativa é de um sistema com menos brechas para interpretações divergentes e, consequentemente, menor litigiosidade.
[➡️ Ponto de Vista Estratégico: O sucesso da Reforma Tributária não dependerá apenas da qualidade do texto legal, mas da governança da transição, da capacidade de diálogo entre os entes federativos e da preparação efetiva do setor privado e do público em geral. É um esforço coletivo.]
A implantação da Reforma Tributária é, sem dúvida, um dos maiores desafios da administração pública brasileira nas últimas décadas. Os obstáculos são reais e complexos, envolvendo desde a vastidão territorial e a diversidade econômica do país até a intrincada teia de interesses políticos e a necessidade de uma execução técnica impecável. Contudo, os benefícios potenciais de um sistema tributário mais racional, simples e justo são o motor que deve impulsionar o país a superar essas dificuldades.
Para os profissionais da área contábil e jurídica, e para os empresários, o momento é de estudo profundo, planejamento estratégico e participação ativa nos debates que moldarão o futuro fiscal do Brasil.
Resumo dos Pontos Centrais: A Reforma Tributária Brasileira Sob Análise Crítica
A Reforma Tributária é uma empreitada de fôlego, cujos resultados finais dependerão da habilidade do país em navegar por suas complexidades intrínsecas. Acompanhar de perto cada passo dessa jornada é fundamental para todos os brasileiros.
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